quarta-feira, 27 de março de 2013

Entre o não lugar e os espaços vazios: o mal estar do jornalismo contemporâneo

Adaptado de: BITENCOURT, Luciano Gonçalves. Entre o não-lugar e
os espaços vazios: um mini-ensaio sobre o mal estar no jornalismo. In
SARDÁ, Laudelino José (Org.) Da olivetti à internet: política e técnicas
da notícia. Tubarão: Ed. UNISUL, 2007.
Jornalismo é profissão? De acordo com o professor e pesquisador português Nelson Traquina, a resposta está na simbiose entre a atividade jornalística e as teorias democráticas. Traquina (2005) defende que o Jornalismo é considerado profissão se analisado a partir do desenvolvimento da ocupação. Fruto da industrialização e da publicidade como forma de financiamento da disseminação de informações naquela nova sociedade, o jornalismo merece o status de profissão como uma atividade de contra-poder. Tornou-se, por assim dizer, a mediação necessária entre as esferas de poder e a sociedade.

Em sua trajetória, a atividade jornalística construiu hábitos e valores, uma história de luta por reconhecimento, saberes arguidos como próprios e necessários para o exercício profissional, código deontológico específico e uma autoridade reconhecida pela estrutura social, ainda que com resistências. Tais pressupostos, para a sociologia das profissões, garantem a classificação: Jornalismo, definitivamente, é profissão! A questão é fugir do debate reducionista ligado ao domínio técnico e das linguagens, que expõe os profissionais da área como “meros empregados, trabalhadores numa fábrica de notícias” (TRAQUINA, 2005).

Divulgada em abril de 2006, pesquisa da Federação Internacional dos Jornalistas indicava um alto índice de frustração profissional com os salários e alertava para a queda de qualidade dos jornais por conta da constante substituição dos jornalistas mais experientes pelos mais novos. Sintoma da convergente volatilidade entre tempo, espaço e capital e da falta de um debate consistente sobre as condições de possibilidade. O documento contém a sistematização dos dados colhidos em 41 empresas jornalísticas de 38 países. Essa não é uma crise localizada.

A instituição do tempo real no processo de geração de conteúdos jornalísticos engendrou um modo de ser profissional calcado na velocidade. Um fetiche, na concepção da pesquisadora Sylvia Moretzsohn (2002). Indo além, tal fetiche já transcende a idéia de notícia como mercadoria. Não é mais a notícia - pode-se assumir o risco de dizer - o produto caracteristicamente jornalístico; mas a supressão do tempo na apuração e disseminação de informações sobre os acontecimentos do cotidiano. Quando fontes e versões sobre os fatos são homogeneizadas, as técnicas de apuração e produção dominam o processo; ou pior, são o produto. E é ao domínio do tempo que se entrega o exercício, antes intelectual, de interpretação do mundo.

Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001), nosso mal estar reside na insegurança, na instabilidade e na incerteza decorrentes de uma suposta liberdade espaciotemporal. Desencaixado das estruturas outrora “seguras”, o indivíduo agora navega pelos fluxos do tempo e do espaço. Projetos de vida, politicamente sustentados em ações coletivas, deram lugar ao movimento no que Bauman define como “política-vida”. Antes de caracterizar-se como visão pessimista, a reflexão propõe a necessidade de um novo sentido na construção do mundo. Qual o lugar do jornalismo neste contexto? Onde estão os limites, as fronteiras que o separam das demais ocupações e, portanto, o caracterizam como profissão?

Se há uma ocupação para o jornalista hoje, essa é a do não lugar (AUGÉ, 1994). Nos postos de trabalho jornalísticos, os laços de coexistência e histórias compartilhadas estão para uma identidade generalista em que o Jornalismo assume suas práticas hegemônicas de produção. As relações com a sociedade são simbolizadas por “contratos” fugazes que autorizam a convivência no tempo de um percurso, não geram afetividade e, portanto, não sedimentam o envolvimento com as soluções para os problemas que nos afetam a todos. Na sociedade fluida, os não lugares admitem passagens até longas de indivíduos tidos sempre como estranhos. Por mais tempo que dure a estada, não há espaço para idiossincrasias e subjetividades. Na concepção de Bauman (2001), todos devem sentir-se em casa, mas não podem se comportar como se nela estivessem. O não lugar do Jornalismo está tanto nas relações de força que o sustentam enquanto profissão quanto no imaginário de ocupação possível.

É paradoxal: as fontes de informação se multiplicam e as alternativas são usadas para denunciar o movimento das organizações que, supostamente, dominam o processo de comunicação. Jornalistas “usam da palavra” nos meios alternativos contra os meios hegemônicos em defesa de um não lugar de ocupação. Mas só o fazem quando estão fora deste não lugar; quando não representam a hegemonia homogeneizante da informação. Talvez para perpetuar um sentido democrático de contra-poder que ainda sustenta, como propõe Nelson Traquina (2004), o ideário da profissão.

Há outro lugar, contudo, que Zygmunt Bauman (2001) descreve como característico da sociedade fluida: são os espaços vazios. Poderíamos descrevê-los como espaços não vistos e, portanto, sem significado. E isso não significa que não existam. Fazem parte de um modelo mental que não os reconhece; nem como existentes nem como possibilidade. Os espaços vazios no Jornalismo estão na ambivalência que distingue a tolerância à diversidade e a solidariedade ao diferente (BAUMAN, 1999). A primeira apenas reconhece e faz reconhecer por seu intermédio a distinção entre estranhos; a segunda engaja-se na luta pelo reconhecimento do diferente como constitutivo de um mesmo espaço social, cuja mediação existe para aproximá-lo.

Se o Jornalismo é profissão, e isso já não parece pertinente discutir, terá de construir novos lugares de ocupação. Entre o não lugar desconfortável dos postos de trabalho voláteis e da mediação técnica cada vez menos necessária e os espaços vazios do não visto como condição de possibilidade há potencialidades a serem percebidas. A atividade intelectual, romantizada pela imagem da máquina de escrever, símbolo da liberdade contra as racionalidades totalitárias do Século XX, vive hoje o mal estar do desencaixe; do deslocamento das estruturas que já não oferecem segurança. Se é fora do não lugar que a resistência parece possível, que o seja então para construir novos mundos. Com a multiplicidade de ferramentas tecnológicas disponíveis para quem lida com a disseminação de informações, está na busca pela expressividade sensível das relações humanas a resposta para o movimento necessário rumo aos espaços vazios.

Jornalismo é profissão? A resposta está numa outra perspectiva para a ocupação do que se diz ser um exercício intelectual.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Povos expostos, povos figurantes: o olho da história 4

George Didi-Huberman (Paris : Les Éditions de Minuit, 2012)
Tradução contracapa – Raquel Wandelli

Como os povos são hoje representados? Eis uma questão inextricavelmente estética e política. Os povos hoje parecem mais expostos do que nunca. Eles são, na verdade, sub-expostos na sombra de sua censura ou – por um resultado de invisibilidade equivalente - sobre-expostos à luz artificial de sua espetacularização. Em suma, eles são muitas vezes expostos a desaparecer.

Com base nos requisitos formulados por Walter Benjamin (a história só vale a pena se ela deixa falar os "sem nomes") ou Hannah Arendt (uma política só vale a pena se ela faz emergir uma  faísca "da humanidade "), interrogam-se as condições para uma possível representação dos povos. Isso se passa menos pela história do retrato de grupo holandês e dos "retratos de tropas" totalitárias do que pela atenção específica  aos “pequenos povos” pelos poetas (Villon, Hugo, Baudelaire, por exemplo), pintores (Rembrandt, Goya, Gustave Courbet), fotógrafos (Walker Evans, August Sander ou, para citarmos um exemplo contemporâneo, Philippe Bazin).

O cinema, entretanto, nomeia figurantes estes "pequenos povos" diante dos quais agem e se agitam os "atores  principais", as estrelas como se dizem. De onde os figurantes encarnam um nó histórico crucial e político em si, desde o seu nascimento - a saída das fábricas Lumière - às suas elaborações modernas em Eisenstein e Rossellini, e mesmo bem além. Uma longa discussão é aqui dedicada à obra de Pier Paolo Pasolini, em seu próprio caminho de reencontrar os "povos perdidos" em seus "gestos sobreviventes", um processo que permite esclarecer a análise de Erich Auerbach (para as formas poéticas), Aby Warburg (para as formas visuais) e Ernesto De Martino (para as formas sociais). Sem esquecer alguns exemplos mais contemporâneos, como o filme do chinês Wang Bing intitulado, especificamente, O Homem Sem Nome.

Peuples expos és, peuples figurants, l’oeil de l’Histoire, 4,  George Didi-Huberman
Paris : Les Éditions de Minuit, 2012 (original)
On s’interroge, dans ce livre, sur la façon dont les peuples sont représentés : question indissolublement esthétique et politique. Les peuples aujourd’hui semblent exposés plus qu’ils ne l’ont jamais été. Ils sont, en réalité, sous-exposés dans l’ombre de leurs mises sous censure ou - pour un résultat d’invisibilité équivalent – sur-exposés dans la lumière artificielle de leurs mises en spectacle. Bref ils sont, comme trop souvent, exposés à disparaître. 
À partir des exigences formulées par Walter Benjamin (une histoire ne vaut que si elle donne voix aux « sans noms ») ou par Hannah Arendt (une politique ne vaut que si elle fait surgir ne fût-ce qu’une « parcelle d’humanité »), on interroge ici les conditions d’une possible représentation des peuples. Cela passe moins par l’histoire du portrait de groupe hollandais et des « portraits de troupes » totalitaires que par l’attention spécifique accordée aux « petits peuples » par les poètes (Villon, Hugo, Baudelaire par exemple), les peintres (Rembrandt, Goya ou Gustave Courbet), les photographes (Walker Evans, August Sander ou, pour un exemple contemporain, Philippe Bazin). 
Le cinéma, quant à lui, nomme figurants ces « petits peuples » devant lesquels agissent et s’agitent les « acteurs principaux », les stars comme on dit. D’où que les figurants incarnent un enjeu crucial, historique et politique, du cinéma lui-même, depuis sa naissance – La Sortie des usines Lumière – jusqu’à ses élaborations modernes chez Eisenstein et Rossellini, et bien au-delà encore. Une longue analyse est ici consacrée au travail de Pier Paolo Pasolini, à sa façon de retrouver les « peuples perdus » dans leurs « gestes survivants », selon un processus que permettent d’éclairer les analyses d’Erich Auerbach (pour les formes poétiques), d’Aby Warburg (pour les formes visuelles) et d’Ernesto De Martino (pour les formes sociales). Sans oublier quelques exemples plus contemporains, tel que le film du Chinois Wang Bing intitulé, précisément, L’Homme sans nom.

quinta-feira, 21 de março de 2013

O jornalista e a crônica em Mário Pereira

MÁRIO, uma semana antes de lançar novo livro, voltou aos tempos de
professor. Papo aconchegante sobre Jornalismo e Literatura na UNISUL
Sr. Ernesto, disseram-lhe em Cuba há alguns anos, é descendente direto da família de felinos que conviveram com o escritor Ernest Hemingway. Mário Pereira não caiu na "pilantragem", mas também não resistiu à compra do bichano quando visitara o Museu Hemingway, sítio que servia de refúgio para o romancista estadunidense na ilha caribenha. Finca Vigia, nos arredores de Havana, preserva objetos pessoais de Hemingway e as fontes de inspiração para o livro que lhe rendeu o Prêmio Pulitzer e o Nobel de Literatura: O Velho e o Mar

--- Vocês já leram? Não, é? Ah, vocês têm que ler!

O tom de voz era o de um conselho paterno, firme e contundente. Daqueles que sugerem caminhos e alertam para os riscos de não trilhá-los.

--- Foi a melhor experiência de leitura que eu tive.

Mário Pereira lecionou redação jornalística na Universidade do Sul de Santa Catarina por alguns anos. Organizou e publicou três livros de crônica com textos produzidos pelos estudantes na disciplina; descobriu talentos cujos nomes ainda guarda. Alguns deles são colegas próximos de profissão. Estar novamente com estudantes de Jornalismo, ainda que por breves duas horas, fora como pinçar da cabeleira branca fios adequados a uma tecitura apaixonada sobre o ofício e a literatura. A memória não lhe falha. Mas, como na prosa de todo o bom contador de histórias, há sempre uma pitada aqui e ali de adequação criativa ao contexto.

A quinta-feira, 14 de março, em que matou saudades dos tempos de professor, antecedera em uma semana ao lançamento do seu décimo livro: Roteiro Histórico e Sentimental pelas Ruas de Florianópolis. As histórias foram inspiradas nos personagens que deram nome às ruas ou em situações vividas pelo autor nas suas andanças. Florianópolis, aliás, estava nos planos só por alguns anos, enquanto o desafio de fazer parte do "primeiro jornal informatizado do Sul do mundo" não fosse vencido. E lá se vão quase 30, depois de aceitar o convite para trabalhar no Diário Catarinense, do Grupo RBS, e passar por outras redações de jornal.

Por acaso entrou no Jornalismo; a crônica vem do gosto pela literatura. Mário Pereira, enquanto jornalista e escritor, achou no limite tênue que o gênero oferece ao registro do cotidiano um lugar confortável. 

--- A crônica tem sempre um pé fincado na realidade, mas com a porta aberta para a criatividade.

Sua paixão é escrever, expressar uma certa "interpretação artística da realidade". Tem planos de produzir semanalmente para o jornal perfis de pessoas comuns de Florianópolis, de concluir um livro sobre "elementos de redação jornalística" e outro de contos, este na sequência do recém lançado. Há 10 anos trabalha num romance histórico sobre a Porto Alegre do Século XIX em que emprestará aos personagens principais os perfis de seus familiares.

Está afastado da produção jornalística por opção. Trabalha em casa os artigos de opinião e editoriais para o DC. Crítico das redações excessivamente tecnologizadas, Mário vê na acomodação um certo risco ao ofício. Como "escritores da realidade" e "historiadores do presente", os jornalistas dependem da observação atenta ao que os cerca.

--- Quando era editor-chefe no Jornal O Estado, eu não deixava ninguém na redação. Vão procurar o que fazer na rua, eu dizia. A redação é só pra produzir textos.

Pés fincados na realidade e portas abertas
para a criatividade. É o cronista
Aos estudantes de Jornalismo sobraram dicas: de livros, de posturas, de fundamentos para bons textos. As indicações de livro talvez cheguem aos seis quilos da edição dominical do New York Times, um dos prediletos de Mário Pereira. O Velho e o Mar foi só uma das referências; tem também O Livro da Vida, Fama e Anonimato… … … Escrever sem uma boa gramática e um bom dicionário para pronta consulta é inadmissível… … … Clareza, fluência e simplicidade são indicadores de boas prosas; criatividade, aliás, diz Mário, é simplicidade… … … 

--- É preciso decifrar esse mundo louco, não se contentar com coisa feita, buscar a própria interpretação.

Mário Pereira é imortal. Em outubro de 2009 foi eleito para ocupar a Cadeira 8 da Academia Catarinense de Letras, que pertenceu ao antropólogo Sílvio Coelho dos Santos. Os "chás divertidíssimos" com a "vida inteligente" estão na rotina, são um estímulo para "continuar aprendendo e produzindo". 

E sua obra reserva um lugarzinho para o Sr. Ernesto, Ernesto Hemingway, "um gato fantástico" que já era conto antes mesmo de Mário dedicar a ele sua prosa elegante e refinada.


Ouça a palestra de Mário Pereira na íntegra

quinta-feira, 14 de março de 2013

Fernando Evangelista, um Jornalismo

EVANGELISTA e o diálogo generoso com a primeira fase de Jornalismo
da UNISUL, Pedra Branca. As qualidades de um bom texto e de um bom
profissional não estão diretamente ligadas ao vínculo com a grande mídia
Eram olhos e ouvidos sábios, curiosos, características que Fernando Evangelista imputa como necessárias aos bons jornalistas. Carlos Pianta quebrou a sintonia ao abrir a porta, com a desculpa de estar procurando a turma com quem teria aula naquela quarta-feira, 6 de março. Descobriu-se depois que Pianta queria mesmo era conhecer a primeira fase do curso de Jornalismo da Universidade do Sul de Santa Catarina e alertar para o trote aos calouros nos próximos dias. Veterano de curso e de andanças políticas, fora entrevistado para documentário produzido pela produtora de Fernando, a Doc Dois Filmes, sobre a manifestação dos estudantes em 2010 contra o aumento das tarifas de ônibus em Florianópolis. Os dois cumprimentaram-se afetuosamente, Pianta desculpou-se e seguiu seu rumo. Fernando retomou o da turma.

Formado em Jornalismo pela UNISUL, Fernando Evangelista tem no currículo marcas de uma profissão cujo sentido independe dos vínculos formais com a grande mídia. Em regiões de conflito, inscreveu nome e sobrenome no lado oposto ao das assinaturas sem certidão que costumam ilustrar as reportagens oficiosas. Ele é tão anônimo para o Jornalismo de pedigree quanto os personagens que costuma descrever em suas matérias. O lugar que ele ocupa é o que escolheu desde os tempos de faculdade e vem consolidando desde o momento em que pôs a mochila e saiu a viajar, com o diploma ali, guardadinho.

--- Eu virei meio que um especialista em confusões.

A reunião do G-8 em 2001 na cidade de Gênova, a Operação Escudo Defensivo na Palestina no ano seguinte, a guerra no Iraque em 2003, no Líbano em 2006, e o conflito entre Curdos e Turcos em 2007 estão na bagagem de reportagens especiais para a Revista Caros Amigos. Reportagens sobre o Movimento dos Sem Terra e produções audiovisuais em defesa dos direitos humanos lhe renderam prêmios. Hoje dedica-se à produção de documentários com a "parceira de projetos e de aventuras", a também jornalista Juliana Kroeger, com quem é casado. Foi professor de Jornalismo na Estácio de Sá e se prepara agora para dar aulas na UNISUL, na Grande Florianópolis.

Ferreira Gullar o convenceu com um poema de que Jornalismo era a escolha certa. Fernando Evangelista carrega a vida que bate como epígrafe de uma trajetória profissional pautada em alternativas ao modelo de negócios que ainda sustenta a indústria jornalística.

--- Hoje não é mais necessário uma grande empresa para nos sustentar e para que sejamos ouvidos. Isso acabou!

Não significa que Fernando vire as costas para exemplos oferecidos pela chamada grande impensa aos que ainda degustam boas histórias em bons textos jornalísticos. Carlos Wagner, Eliane Brum, José Hamilton Ribeiro e Caco Barcelos, para citar só alguns, são nomes que sustentam seus argumentos. 

A conversa com os estudantes recém chegados à vida universitária foi planejada a partir de uma pergunta inspiradora: como escrever um bom texto jornalístico? E a resposta, dada num diálogo generoso, desenhou-se sobre algumas qualidades que Fernando considera essenciais: ser curioso, saber ver e saber ouvir para produzir textos com precisão, foco, clareza e força.

Jornalismo Gonzo, New Journalism, flânerie... Evangelista foi acrescentando elementos típicos dos estudos que orientam a formação profissional no contexto do portfolio construído ao longo da própria carreira. Mas a produção de bons textos não tem, insistiu o jornalista, segredo:

--- Escreve bem quem lê bastante.

E a leitura de que fala tem abrangência. É leitura também de mundo, algo que se amplia com o interesse por boas histórias e o respeito para com a melhor versão possível da verdade.

--- É preciso desenvolver um olhar insubordinado, não acomodado sobre as coisas. Eliane Brum é a jornalista mais premiada no Brasil não só porque tem um bom texto; os prêmios vêm das boas pautas que ela levanta. E ela faz isso desde o início da carreira.

A fome de vida que Ferreira Gullar despertou no jornalista é hoje o que também embasa seus argumentos sobre o ofício. A graduação em Ciências Socias pela Universidade Federal de Santa Catarina e o mestrado em Jornalismo e Comunicação pela Universidade de Coimbra, em Portugal, são complemento importante para as leituras de mundo em Fernando. Mas para o jornalista, a inspiração não vem do que o sacia; vem da fome.



Ouça a íntegra do diálogo entre Fernando e os estudantes de Jornalismo da Unisul