sexta-feira, 22 de março de 2013

Povos expostos, povos figurantes: o olho da história 4

George Didi-Huberman (Paris : Les Éditions de Minuit, 2012)
Tradução contracapa – Raquel Wandelli

Como os povos são hoje representados? Eis uma questão inextricavelmente estética e política. Os povos hoje parecem mais expostos do que nunca. Eles são, na verdade, sub-expostos na sombra de sua censura ou – por um resultado de invisibilidade equivalente - sobre-expostos à luz artificial de sua espetacularização. Em suma, eles são muitas vezes expostos a desaparecer.

Com base nos requisitos formulados por Walter Benjamin (a história só vale a pena se ela deixa falar os "sem nomes") ou Hannah Arendt (uma política só vale a pena se ela faz emergir uma  faísca "da humanidade "), interrogam-se as condições para uma possível representação dos povos. Isso se passa menos pela história do retrato de grupo holandês e dos "retratos de tropas" totalitárias do que pela atenção específica  aos “pequenos povos” pelos poetas (Villon, Hugo, Baudelaire, por exemplo), pintores (Rembrandt, Goya, Gustave Courbet), fotógrafos (Walker Evans, August Sander ou, para citarmos um exemplo contemporâneo, Philippe Bazin).

O cinema, entretanto, nomeia figurantes estes "pequenos povos" diante dos quais agem e se agitam os "atores  principais", as estrelas como se dizem. De onde os figurantes encarnam um nó histórico crucial e político em si, desde o seu nascimento - a saída das fábricas Lumière - às suas elaborações modernas em Eisenstein e Rossellini, e mesmo bem além. Uma longa discussão é aqui dedicada à obra de Pier Paolo Pasolini, em seu próprio caminho de reencontrar os "povos perdidos" em seus "gestos sobreviventes", um processo que permite esclarecer a análise de Erich Auerbach (para as formas poéticas), Aby Warburg (para as formas visuais) e Ernesto De Martino (para as formas sociais). Sem esquecer alguns exemplos mais contemporâneos, como o filme do chinês Wang Bing intitulado, especificamente, O Homem Sem Nome.

Peuples expos és, peuples figurants, l’oeil de l’Histoire, 4,  George Didi-Huberman
Paris : Les Éditions de Minuit, 2012 (original)
On s’interroge, dans ce livre, sur la façon dont les peuples sont représentés : question indissolublement esthétique et politique. Les peuples aujourd’hui semblent exposés plus qu’ils ne l’ont jamais été. Ils sont, en réalité, sous-exposés dans l’ombre de leurs mises sous censure ou - pour un résultat d’invisibilité équivalent – sur-exposés dans la lumière artificielle de leurs mises en spectacle. Bref ils sont, comme trop souvent, exposés à disparaître. 
À partir des exigences formulées par Walter Benjamin (une histoire ne vaut que si elle donne voix aux « sans noms ») ou par Hannah Arendt (une politique ne vaut que si elle fait surgir ne fût-ce qu’une « parcelle d’humanité »), on interroge ici les conditions d’une possible représentation des peuples. Cela passe moins par l’histoire du portrait de groupe hollandais et des « portraits de troupes » totalitaires que par l’attention spécifique accordée aux « petits peuples » par les poètes (Villon, Hugo, Baudelaire par exemple), les peintres (Rembrandt, Goya ou Gustave Courbet), les photographes (Walker Evans, August Sander ou, pour un exemple contemporain, Philippe Bazin). 
Le cinéma, quant à lui, nomme figurants ces « petits peuples » devant lesquels agissent et s’agitent les « acteurs principaux », les stars comme on dit. D’où que les figurants incarnent un enjeu crucial, historique et politique, du cinéma lui-même, depuis sa naissance – La Sortie des usines Lumière – jusqu’à ses élaborations modernes chez Eisenstein et Rossellini, et bien au-delà encore. Une longue analyse est ici consacrée au travail de Pier Paolo Pasolini, à sa façon de retrouver les « peuples perdus » dans leurs « gestes survivants », selon un processus que permettent d’éclairer les analyses d’Erich Auerbach (pour les formes poétiques), d’Aby Warburg (pour les formes visuelles) et d’Ernesto De Martino (pour les formes sociales). Sans oublier quelques exemples plus contemporains, tel que le film du Chinois Wang Bing intitulé, précisément, L’Homme sans nom.

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